Projecto de Sofia Maciel
A obra é uma instalação que exibe um conjunto de elementos – uma marquesa de genecologia, uma peça de corpo, áudio e vídeo/performance. Sob a forma de um auto ensaio experimentalista, aborda um manifesto pessoal no feminino em prol da questão das marcas no artista, numa perspectiva individual. Essas marcas, – a memória, a rotura e o conhecimento – são as limitações não visíveis, inacessíveis que influenciam a criação artística. Sendo uma autobiografia, pretende enfatizar através do corpo e dos objetos, aquilo que está esquecido, a repetição, o óbvio, as experiências, o inútil, as inquietações, as vulgaridades da vida, a presença humana, a repetição, os movimentos da vida comum, a repulsa, o desconhecido, o estímulo, o prazer carnal, a animalidade bruta, a mudez, o impulso. O cair no vazio – a perceção das sensações.
Contudo, esse percurso é pautado por uma referência constante e exterior da matéria e trata-se, pois, do confronto da artista com as suas experimentações pessoais causadas pelo que a envolve. A linguagem da instalação afirma a fugacidade e o transitório.
A densidade do corpo em mutação com o estado orgânico. A ocorrência de dois tempos que coincidem em simultâneo.
A performance atua através do experimentalismo do corpo em relação ao espaço, ao objeto, sem se segregarem. Um espaço que a artista cria e que lhe pertence. Com uma mesma sensibilidade, a obra inspira-se num conjunto de referencias artísticas e literárias que reúnem algo que lhes é comum – o corpo, a ação, o gesto e a memória.
O FEMININO NA CONTEMPORANEIDADE
Desenvolve-se sob a questão das marcas na criação artística, através da visão da mulher artista, pensadora. Explorando uma questão biográfica daquilo que é o desempenho da mulher na arte e enquanto ser, a relação da mulher com a linguagem, especificamente no campo artístico e visual, reflete um importante fator de construção das identidades femininas - um imenso poder de influência sobre as mulheres, que, no tempo tem vindo a aumentar e que encontra na sua representação na arte e na sua própria criação. É possível pensar que contemporaneidade, o eu feminino na arte se encontra empenhado em cultivar o individualismo e a consciencialização, resultantes da expansão e permanência no espaço privado, com o máximo de desejo. Surge assim o individualismo na mulher, não submetido a normas coletivas, um individualismo opcional provocado pelas mutações ocorridas em torno de si e do seu tempo.
Intensificam-se as descobertas da feminidade quando, diante do excesso de possibilidades de escolha e numa disposição mais livre de si, a constituição de um mundo íntimo e emocional se torna praticável a cada mulher. É, o ficar responsável pela sua própria imagem interior e exterior, e pelo seu viver subjetivo.
A performance inicia-se através do experimentalismo do corpo em relação ao espaço,
à arquitetura, ao objeto - sem se segregarem.
Um espaço que a artista cria e que lhe pertence. Havendo essa interação, ocorre a sensação de efemeridade, cada ação prolonga-se para além de si. Essa essência é encontrada através de relatos no feminino, na mudança percorrida para novos lugares da vida, as experiências, o viver vários corpos, a rotura marcada no caos. O território do corpo e a sua relação com o espaço. A memória enquanto um espaço orgânico terminado mas visível.
A performance delimita o corpo através de gestos corporais.
(texto de Sofia Maciel no seu portfólio sobre o projecto)
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